terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Clonagem Reprodutiva


     A clonagem é um mecanismo comum de propagação da espécie em plantas ou bactéria. Pode-se definir um clone como um grupo de células ou organismos, originados de uma única célula e que são absolutamente idênticas à célula original. [7]   Nos seres humanos, os clones naturais são os gêmeos idênticos que se originam da divisão de um único óvulo fertilizado. A clonagem é a cópia ou a duplicação de células ou de embriões a partir de um ser já adulto. As cópias possuem todas as características físicas e biológicas do seu progenitor genético (SOUZA & ELIAS, 2005: 8; ZATZ, 2004: 247).
       
A clonagem da ovelha Dolly 1996, na cidade de Edimburgo, no interior da Escócia, pelo cientista Ian Wilmut, demonstrou, pela primeira vez, a possibilidade de clonar um mamífero – ou seja, a descoberta de que uma célula somática de mamífero, já diferenciada, poderia ser reprogramada ao estágio inicial e voltar a ser totipotente. Isto foi conseguido através da transferência do núcleo de uma célula somática da glândula mamária da ovelha que originou a Dolly para um óvulo enucleado (ZATZ, 2004: 249).
   Este experimento fantástico, que revolucionou a biologia celular e biologia do desenvolvimento, teria sido anteriormente proposto pelo embriologista alemão Hans Spemann em 1938. Um ano depois da clonagem da ovelha Dolly, experimentos independentes realizados por grupos liderados pelos cientistas norte-americanos Thomson e Gearhart, obtiveram, pela primeira vez, células embrionárias pluripotentes humanas (JOSÉ, 2005: 21-22).
Pioneiras. Polly (esq.) também foi uma ovelha clonada; Dolly (dir.), no entanto, foi a que se consagrou como avanço da ciência há 20 anos.



O progresso da ciência obtido através da pesquisa da clonagem de mamíferos e da pesquisa das células tronco suscitou ponderações éticas, jurídicas, morais e religiosas, o que levou os governos a legislar sobre o tema e proibir a clonagem reprodutiva humana [8] em quase todos os países do mundo. Entretanto, os cientistas buscam desenvolver métodos capazes de permitir a clonagem terapêutica, de enorme alcance, frente a numerosas doenças para as quais a medicina contemporânea não dispõe de alternativas eficazes de tratamento.

O grupo liderado por Ian Wilmut afirma que praticamente todos os animais que foram clonados nos últimos anos a partir de células não embrionárias estão com problemas (RHIND, 2003). Entre os diferentes defeitos observados nos pouquíssimos animais que nasceram vivos após inúmeras tentativas, observam-se: placentas anormais, gigantismo em ovelhas  e gado,   defeitos cardíacos  em porcos, problemas pulmonares em vacas, ovelhas e porcos, problemas imunológicos, falha na produção de leucócitos, defeitos musculares em carneiros. De acordo com Hochedlinger e Jaenisch (2003), os avanços recentes em clonagem reprodutiva permitem quatro conclusões importantes: 1) a maioria dos clones morre no início da gestação; 2) os animais clonados têm defeitos e anormalidades semelhantes, independentemente da célula doadora ou da espécie; 3) essas anormalidades provavelmente ocorrem por falhas na reprogramação do genoma; 4) a eficiência da clonagem depende do estágio de diferenciação da célula doadora (ZATZ, 2004: 250).

     A comunidade científica internacional rapidamente percebeu que seria possível combinar as duas tecnologias recém-descobertas (a clonagem e as células-tronco humanas). Isso deu origem ao conceito de clonagem terapêutica, tecnologia por meio da qual é possível reconstruir ou reparar tecidos danificados por doenças ou por acidentes a partir de novas células com as mesmas características que as do tecido afetado e a mesma identidade genética do paciente (JOSÉ, 2005: 22).

        Clonagem terapêutica

       
A clonagem terapêutica, muitas vezes confundida com terapia celular, é a transferência de núcleos de uma célula para um óvulo sem núcleo. Trata-se do aprimoramento das técnicas hoje existentes para culturas de tecidos, realizadas há décadas.

Na clonagem terapêutica, o embrião clonado, gerado pela transferência nuclear (um conglomerado de aproximadamente 100 células), é dissociado no laboratório para a obtenção das células-tronco embrionárias, células pluripotentes, que dariam origem a todos os tipos de células do embrião. Essas células podem ser multiplicadas em cultura, mantendo essa capacidade de  diferenciação  quase ilimitada.

        Ao transferir o núcleo de uma célula de uma pessoa para um óvulo sem núcleo, esse novo óvulo ao dividir-se gera, em laboratório, células potencialmente capazes de produzir qualquer tecido. Nos dias atuais, apenas é possível cultivar em laboratório células com as mesmas características do tecido de onde foram retiradas. As técnicas mais avançadas de clonagem tornariam possível a geração de um órgão que serviria para substituir o órgão equivalente cuja função tenha deteriorado. A clonagem terapêutica teria a excepcional vantagem de evitar os fenômenos de rejeição, se o doador fosse também o próprio receptor. Seria o caso, por exemplo, de reconstituir a medula em alguém que se tornou paraplégico após um acidente ou substituir o tecido cardíaco em uma pessoa que sofreu um infarto, conforme algumas experiências já demonstraram (ZATZ, 2004: 251).
        Nos portadores de doenças genéticas não seria possível usar as células do próprio indivíduo (porque todas têm o mesmo defeito genético), mas de um doador compatível. As células-tronco mais bem conhecidas são as células-tronco do tecido hematopoiético. Os transplantes de medula óssea para o tratamento de diversas doenças hematológicas constituem um transplante de células-tronco com potencial gerador de células do tecido sanguíneo. Para cada 10 mil a 15 mil células da medula óssea há uma célula-tronco. O transplante de medula óssea, para o tratamento de pacientes portadores de leucemia é um método de terapia celular já conhecido e de eficácia comprovada. A medula óssea do doador contém células-tronco sangüíneas que vão fabricar as novas células sangüíneas sadias (SOUZA & ELIAS, 2005: 8).

   Construindo um "link" entre os acontecimentos passados para um acontecimento recente, temos como exemplo os primeiros primatas clonados com a técnica da ovelha Dolly.
















As macaquinhas clonadas Zhong Zhong e Hua Hua










[7] De acordo com  Webber  (1903), um clone é definido como uma população de moléculas, células ou organismos que se originaram de uma única célula e que são idênticas à célula original e entre elas.
[8] A clonagem reprodutiva humana é a técnica pela qual se pretende fazer uma cópia de um indivíduo. Nessa técnica, transfere-se o núcleo de uma célula, que pode ser uma célula de um adulto ou de um embrião, para  um óvulo sem núcleo. Se o óvulo com esse novo núcleo  começasse a se dividir, fosse transferido para um útero humano e se desenvolvesse, ter-se-ia uma cópia da pessoa de quem foi retirado o núcleo da célula.


FONTE: Ilustração de Sirio J. B. Cançado para o suplemento especial clonagem da pesquisa fapesp nº 73, de março de 2002. Leonard Leite revisado por Giselda MK Cabello.


FONTE: Ilustração: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/01/1952959-nascem-os-primeiros-primatas-clonados-com-a-tecnica-da-ovelha-dolly.shtml



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