terça-feira, 10 de abril de 2018

A individuação não exclui o mundo, pelo contrário, o engloba


O processo de Individuação


No processo de individuação na história do pensamento humano existem documentos de natureza totalmente diversa, que são ilustrações positivas de nosso processo. Eu gostaria, sobretudo,  de  mencionar  os  Koans  do  Zen-budismo[1]  que,  justamente  por  seu  caráter paradoxal, iluminam, como um repentino jorro de luz, as relações quase impenetráveis entre o eu e o Si-mesmo. São João da Cruz descreve o mesmo problema sob a figura da “noite escura da alma”[2] numa linguagem inteiramente diversa e bem mais acessível à mente ocidental.
     O fato de sermos obrigados a buscar analogias, de um lado, no âmbito da psicopatologia e, de outro, no âmbito da mística tanto oriental como ocidental, é uma decorrência natural: o processo de individuação é, psiquicamente, um fenômeno-limite que necessita de condições especiais para se tornar consciente.
        Esta individuação significa precisamente a melhor e mais completa realização de toda a pessoa e envolve a integração progressiva do Selfbest (Si-mesmo).
       
A individuação não exclui o mundo, pelo contrário, o engloba.
    Jung diz que o processo de individuação pode ser confundido com a tomada de consciência do ego e que assim, o ego é identificado com o Selfbest: “Se assim fosse, a individuação passaria a ser simples egocentrismo e puro auto-erotismo”.[3]
       Esse mal-entendido é geral, uma vez que não se distingue corretamente individualismo de individuação.
        Individualismo significa acentuar e dar ênfase deliberada a supostas características, em oposição  a  considerações  e  obrigações  coletivas.   A  individuação,   no  entanto,  significa precisamente a realização melhor e mais completa das qualidades coletiva do ser humano; é a consideração  adequada  e  não  o  esquecimento  das  características  individuais, o fator determinante de um melhor rendimento social.
     A individuação, portanto, só pode significar um processo de desenvolvimento psicológico que permite a realização das qualidades individuais dadas; em outras palavras, é um processo mediante o qual um homem se torna o ser único que de fato é. Com  isto , não  se torna “egoísta”, no sentido usual da palavra, mas procura realizar a característica do seu ser e isto, como dissemos, é totalmente diferente do egoísmo ou do individualismo.



      Para a Drª. von Franz[4], “o processo da individuação” descreve o caminho pelo qual o consciente e o inconsciente do indivíduo aprendem a conhecer, respeitar e acomodar-se um ao outro.
        Por isso, a essência da filosofia de vida de Jung revela que: o homem só se torna um ser integrado, fértil e feliz quando (e só então) o seu processo de individuação está realizado, quando consciente e inconsciente aprenderem a conviver em paz e completando-se um ao outro.[5]




[1] Cf. JUNG, Carl Gustav. A natureza da Psique. Petrópolis: Vozes, 1984, p.160-162.
[2] Cf. João da Cruz. In: Obras Completas. Petrópolis: Vozes, 1998, p.494-495.

[3] Cf. JUNG, Carl Gustav. A natureza da Psique. Petrópolis: Vozes, 1984, p.160-162.

[4] Cf. JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. São Paulo: Nova Fronteira, 1989, p.14.
[5] Ib. p.14.






FONTE: Ilustração: https://www.google.com.br/search?q=Foto+A+individua%C3%A7%C3%A3o+n%C3%A3o+exclui+o+mundo,+pelo+contr%C3%A1rio,+o+engloba.&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=f-trmREvi_aPqM%253A%252CFheUGUX6MLH2RM%252C_&usg=__CFvCDmnT0oCMyeOdPuYQq0ft47U%3D&sa=X&ved=0ahUKEwjHtP7e-_HZAhWDIZAKHZi1AGwQ9QEIMjAB&biw=1366&bih=651#imgrc=f-trmREvi_aPqM:

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