Diversidade entre Ética, Moral e Valor
É
necessário, antes de iniciarmos a abordagem sobre os aspectos éticos e
religiosos desta pesquisa, rever ainda que sucintamente, a diversidade entre os
conceitos ética, moral e valor, constantemente empregados como sinônimos, porém
possuem definições e aplicações específicas; como veremos abaixo:
⁑ ÉTICA (ethos)
é de etimologia grega que arcaicamente significava o lugar próprio do homem, o
que é específico do homem. Sendo utilizado por Aristóteles com o significado de
“caráter” ou “costume”. Refere-se aos costumes, à conduta de vida e às regras
de comportamento. Diz respeito ao agir humano, aos comportamentos cotidianos,
às opções existenciais, “modo de ser” ou “caráter” enquanto forma de vida
também adquirida ou conquistada pelo homem. Ética se baseia em três
pré-requisitos: 1. Consciência: Percepção dos conflitos; 2. Autonomia: condição
de posicionar-se entre a emoção e a razão; 3. Coerência. Partindo dessa
condição, a postura religiosa, por exemplo, não é autônoma, pois não se embasa
nesses pré-requisitos. É comum certos dicionários definirem ética como a
ciência da moral.
⁑ MORAL vem do latim mos ou mores, “costume”
ou “costumes”, no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por
hábito. A moral se refere assim ao comportamento adquirido ou modo de ser
conquistado pelo homem.
Originariamente,
ethos e mos, “caráter” e “costume”, assentam-se num modo de comportamento
que não corresponde a uma disposição natural, que na Antiguidade lhe confere
sua dimensão moral, mas que é adquirido ou conquistado por hábito.
Por
meio, desse significado etimológico de moral e de ética não nos fornecem o
significado atual dos dois termos, mas nos situam no terreno especificamente
humano no qual se torna possível e se funda o comportamento moral: o humano
como o adquirido ou conquistado pelo homem sobre o que há nele de pura
natureza. O comportamento moral pertence somente ao homem na medida em que,
sobre a sua própria natureza, cria esta segunda natureza, da qual faz parte a
sua atividade moral.
Desde a
aurora da civilização humana, a técnica, como presente de Prometeu, reflete, de
fato a ambivalência como traço característico: o bem misturado com o mal. Ao
mesmo tempo em que ajuda os humanos, leva consigo a cilada da destruição, da
dor, do sofrimento, da morte. Vernant observa que “O roubo do fogo exprime,
entre outras coisas, a nova condição humana em seu aspecto duplo, positivo e
negativo” (VERNANT, 2002: 315). É um poder perigoso; refletindo a transgressão,
a ruptura. De fato, ela proporciona aos homens um sentimento de poder, uma
potência, cuja contenção nem sempre se torna fácil.
Segundo,
Sánchez Vásquez, a Ética deve ser vista como uma ciência relacionando-se com
outras ciências e que recusa toda e qualquer submissão aos outros campos da
reflexão filosófica e das ciências humanas. Segundo ele, a Ética, embora
partindo de dados empíricos, transcende a simples descrição ou registro de
dados. Ética aspira à racionalidade e à objetividade mais completa,
proporcionando conhecimentos sistemáticos e, na medida do possível,
comprováveis, através de um diálogo constante com as outras ciências; em
particular com a psicologia, a sociologia, a antropologia, o direito e a
economia política. É o que Paul Ricoeur chamaria de ÉTICA anterior.
Ele faz
uma diferença entre ética e moral, colocando a primazia da ética sobre a moral;
que a ética seria o objetivo da vida boa, questionamento sobre o fim, o
fundamento, enquanto que a moral seria o sistema fechado de normas. Isso se
deve ao fato de que para a moral funcionar, ela deve ser imposta. A moral
resulta de juízos impostos (pela família, sociedade, religião, códigos de
conduta) e exclui a autonomia do indivíduo, mediante a idéia implícita de
prêmio (quando for ato “bom”) ou de castigo (quando for ato “mau”) (SEGRE &
COHEN, 2002: 28). É por isso que a moral vem de fora (imposta), enquanto que a
ética parte de dentro do ser humano (construção autônoma de valores).
Deve-se à
moral propriamente dita fornecer recursos intelectuais de um julgamento fundado
dessas evoluções, pois todas essas evoluções não podem ser avalizadas sob pena
de um conformismo que renega a consciência moral; e, se o julgamento é
delicado, impõe-se em nome dos valores fundamentais que se resumem no respeito
pela pessoa e por sua dignidade e honestidade (VALADIER (b), 2003: 120).
O mal não está restrito às guerras ou às circunstâncias nas quais pessoas atuam sob condições de coerção extrema. Hoje ele se revela com frequência na insensibilidade diária diante do sofrimento do outro, na incapacidade ou recusa de compreendê-lo e no desejo de controlar a privacidade alheia. A maldade e a miopia ética se ocultam naquilo que consideramos comum e banal na vida cotidiana.
Salve-se quem puder é o lema atual, cuja vida política se desloca para os bastidores e os nossos líderes são fantoches desrespeitosos e incrédulos por uma multidão que se veste de indiferença para sobreviver à violência da qual não apenas faz parte, como contribui para sua existência. Impedido de assumir uma postura ética diante dos devaneios atuais, distante de suas premissas mais básicas do viver, o cidadão atual nada mais é do que uma ilha isolada defendendo seus interesses, tão pouco apropriados pelo próprio sujeito que o defende, visto que ele nada mais é do que um representante inócuo de uma massa produzida e manipulada pelos meios de comunicação.
Em um mundo em que se você não está nas redes sociais, não está em lugar nenhum, novas formas de censura correm soltas nas demonstrações de ódio via internet. E esse é apenas um dos sintomas dessa cegueira moral que caracteriza nossas sociedades.
Salve-se quem puder é o lema atual, cuja vida política se desloca para os bastidores e os nossos líderes são fantoches desrespeitosos e incrédulos por uma multidão que se veste de indiferença para sobreviver à violência da qual não apenas faz parte, como contribui para sua existência. Impedido de assumir uma postura ética diante dos devaneios atuais, distante de suas premissas mais básicas do viver, o cidadão atual nada mais é do que uma ilha isolada defendendo seus interesses, tão pouco apropriados pelo próprio sujeito que o defende, visto que ele nada mais é do que um representante inócuo de uma massa produzida e manipulada pelos meios de comunicação.
Em um mundo em que se você não está nas redes sociais, não está em lugar nenhum, novas formas de censura correm soltas nas demonstrações de ódio via internet. E esse é apenas um dos sintomas dessa cegueira moral que caracteriza nossas sociedades.
Uma leitura fundamental e de grande
interesse para todos aqueles que se preocupam com as mudanças mais profundas
que, silenciosamente, moldam a vida dos homens na modernidade líquida. Será que a evaporação de nós mesmos pode ser sanada mediante o
encontro com outro? Os Outros são o testemunho de nós e do mundo ao nosso
redor. Vivendo um momento de perfeccionismo, de culto ao corpo, de aparência e
de satisfação momentânea e situacional, que permissão nos damos para expressar
nossos erros, nossas falhas e nossas imperfeições?
Diferentemente da postura habitual de
transformar encontros verdadeiros em amores de bolso, descartados mediante o
menor vacilo e substituídos por qualquer promessa de lucro e satisfação
momentânea, Bauman apresenta um fio de esperança para a humanidade quando nos
convoca a refletir sobre em que consiste o verdadeiro encontro com o Outro.
O Outro é simplesmente quem
pode encontrar em nós o que nós mesmos perdemos. O
Outro é o maior convite de entrega profunda de nossas fragilidades. É a
promessa de nos despir da caricatura criada para agradar em contraposição a
inteireza de quem verdadeiramente somos, incluindo nossas vulnerabilidades, as
porções de nós mesmos que nos envergonha, embora também nos constitua. O
verdadeiro encontro entre dois seres acontece quando nos dispomos a nudez
reveladora de nossa alma, quando nos abstemos das máscaras e dos disfarces que
compuseram nosso estereótipo performático.
De
acordo com Paul Ricouer pode-se considerar a moralidade como o plano de
referência em relação ao qual se definem, de parte a parte, uma ética
fundamental que lhe seria anterior e éticas aplicadas que lhe seriam
posteriores. Por outro lado, pode-se dizer que a moral, em seu desdobramento de
normas privadas, jurídicas, políticas, constitui a estrutura de transição que
guia a transferência da ética fundamental em direção a éticas aplicadas que lhe
dão visibilidade e legibilidade no plano da práxis. Sob esse aspecto, a ética
médica e a éticas judiciária são exemplares, na medida em que o sofrimento
físico e o conflito constituem duas situações típicas que põem sobre a práxis o
selo do trágico (CANTO-SPERBER, Monique, 2007: 595).
Na figura
de Prometeu, temos, também uma ambivalência: de um lado, sua generosidade, sua
coragem, sua audácia e sua revolta em favor dos humanos contra os deuses e sua
presença nos albores da criação da civilização técnica; por outro lado, sua
imprudência, seu orgulho, sua obstinação exagerada que o levou a ser comparado
ao irmão Epimeteu, o distraído.
Entretanto, visualiza-se no mito um traço, talvez o mais característico
de Prometeu, que é a astúcia (métis)
(VON ZUBEN, 2006: 36-37).
No plano
da ética, esse mito nos fornece um horizonte propício para uma reflexão sobre a
técnica, e mais precisamente, sobre as tecnociências e o seu espaço
significante no mundo atual. Prometeu é o emblema da técnica como astúcia
mostrando traços da ambivalência com que estão atualmente assinaladas as
tecnociências, que comportam a mistura de conquistas positivas para a
humanidade, e, ao mesmo tempo, efeitos funestos e destrutivos.
⁑ VALOR, definido por Rokeach como uma crença duradoura
em um modelo específico de conduta ou estado de existência, pessoalmente ou
socialmente adotado, embasado em uma conduta preexistente (SEGRE & COHEN,
2002: 19).
Quanto ao
valor, podemos dizer que ele não é aquilo que permite que o homem viva, mas
aquilo sem o qual ele não poderia viver, e que ele deve dar-se sem se fixar
nele de maneira absoluta, sob a pena de negar de novo o contexto das coisas e
de produzir condutas infiéis às necessidades do momento, logo da vida no futuro
permanente. É, pois uma ficção necessária à vida ou à sobrevivência; está
condicionado pela vontade, fraca ou forte, que o quer e que aceita ver nele a
sua “criação”, ou que o nega para não ter de confessar a sua força ou a sua
fraqueza (VALADIER, 1997: 77).
A
pesquisa: entendida como a procura do que é certo, do que é necessário fazer. É
a pesquisa de normas ou de regras de comportamento, a análise dos valores, a
reflexão sobre os fundamentos dos direitos, dos valores e das normas. O que
importa neste campo de abrangência é buscar, conhecer e descobrir os valores
para somente então interioriza-los ou seguir as normas. Esta pesquisa não é
exclusividade de especialistas, constitui responsabilidade de cada um de nós.
O
resultado da pesquisa, podendo-se entender a ética ou a moral como um conjunto
organizado, sistemático, hierarquizado de regras ou de valores.
Neste
sentido, são distintas as aplicações permitidas:
⁑ O conjunto mais ou menos organizado e coerente de
valores, de regras e de direções de vida de cada um, exemplo: minha moral
pessoal.
⁑ O sistema ou a síntese elaborada pelos pensadores, a
ética de Aristóteles, de Kant, de Descartes, etc.
⁑ As exigências, os valores, os princípios que servem
de base e justificativa para o comportamento de um grupo ou de uma sociedade:
ética cristã, ética grega, moral católica, moral marxista etc.
⁑ A prática, a experiência concreta do cotidiano,
quando ocorre a realização dos valores, o esforço pessoal para aplicar os
princípios e observar as normas.
FONTE: Ilustração: https://i.ytimg.com/vi/QOkSa1Otszo/maxresdefault.jpg
FONTE: Ilustração: https://i.ytimg.com/vi/QOkSa1Otszo/maxresdefault.jpg


Nenhum comentário:
Postar um comentário