sexta-feira, 27 de julho de 2018

Peter Cohen: Arquitetura da Destruição


Pare–nos que uma das temáticas que está por trás dos acontecimentos apresentados no documentário é a questão da estética.
      Esse documentário vai abordar a trajetória de Hitler e parte de sua cúpula nazista. Hitler não era um artista medíocre, o nazismo tinha como princípio fundamental embelezar o mundo, nem que para isso tivesse que destruí-lo. Muito antes de chegar ao poder, o líder nazista sonhou em torna-se artista, produzindo várias gravuras, que posteriormente foram utilizadas. Como modelo em obras arquitetônicas. Numa época de grave crise, no período entre guerras, a arte moderna e contemporânea foi apresentada como degenerada, para os nazistas as obras modernas e contemporâneas distorciam o valor humano e na verdade representavam as deformações genéticas existentes na sociedade, em oposição defende o ideal de beleza como sinônimo de saúde e consequentemente com a eliminação de todas as doenças que pudessem deformar o corpo do povo.
      Nasce assim, uma medicina nazista que valorizavam o corpo, o belo e estará disposta a erradicar os males que possam afetar essa obra.
      Para Hitler tudo que fugisse do harmônico, do ordenado, da imponência e da fruição suave deve ser descartado, tudo que escapava a isso era considerado feio, renegado, era colocado fora da filosofia do belo.
      O domínio sobre a França, Bélgica, Holanda possibilitaram aos nazistas a pilhagem de obras de arte. Em 1941 a conquista da Grécia; nova viagem de Hitler, que tinha na beleza da antiguidade um de seus modelos.
      O documentário segue três eixos: A fixação paranoica dos nazistas na busca de um ideal de embelezamento da sociedade, O uso da Medicina para legitimar o discurso de estar “limpando a Alemanha” dos males físicos das pessoas e coisas dita fora dos padrões, e a associação nada aprazível da etnia judaica a pragas e doenças, como ratos e câncer. Em suma, os nazistas tinham a crença tresloucada de que a sociedade com estes componentes, fora da estética condizente à norma padrão, estava doente e somente o nazismo ofereceria esta “cura”. Judeus, ciganos, comunistas, homossexuais, deficientes físicos e mentais, ou simplesmente ser contra este enquadramento proposto como projeto de mundo: estes pelo prisma nazista deveriam ser varridos da sociedade, pois aos olhos de sua ideologia torpe, eram espécies de tumores que precisavam ser retirados do mundo para não contaminarem a raça ariana.
      O documentário dedica ainda um bom tempo à perseguição e eliminação dos judeus como parte do processo de purificação, não só da raça pura, mas de toda a cultura, mostrando o processo de extermínio. Essa ideia de eugenia Hitler aplica a arte contemporânea, a arte abstrata, a arte moderna, essa mudança vem a partir do século XVIII com o surgimento da estética, onde começa a teoria formalista da arte, onde a arte passa a ser avaliada pelo despertar dos sentimentos no espectador.
      Entretanto, Hitler rompe com essa teoria estética do século XVIII e resgata uma concepção grego-romano do belo, fotos de retardados pessoas com problemas mentais são colocadas ao lado de obras de arte contemporânea e moderna exatamente para mostrar que a obra de arte abstratas moderna e contemporânea eram obras retardadas que deveriam ser extirpadas do meio artístico.
      O documentário pode ser avaliado também do ponto de vista das teorias instrumentais da arte, pois para Hitler a arte é política e uma arte ideológica.
      Portanto, o documentário deixa muito claro que há uma tentativa do ponto de vista estético dos nazistas e parte da cúpula reformular a Europa.


Direção: Peter Cohen

Narração: Bruno Ganz.
Suécia 1992 – 121 minutos.



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