Meditação
A palavra “meditação”, tomada do latim (meditatio), na sua forma verbal meditari é apresentada com o grego médomai, que significa “pensar em algo”, “refletir”, “cuidar de algo”. Na linguagem bíblica, meditari é também a tradução do grego meletân, usado com freqüência pela LXX; significa exercitar “assiduamente” e “estudar”. A Bíblia hebraica usa a palavra hagga no sentido de murmurar, suspirar, dizer a si mesmo algo meio alto. Meditação contém, portanto, desde a perspectiva histórica, os elementos da reflexão, exercício de auscultar e repetição contínua[1]. Une o elemento acústico com o espiritual. A reflexão e a recordação faladas voltam-se para a Lei e as ações salvíficas do Senhor para com o seu povo.
O Novo
Testamento usa a palavra meditari só muito raramente. E. von Severus[2]
conclui daí que os apóstolos quiseram conscientemente distanciar-se da atitude
de piedade exteriorista dos fariseus. Para o centro da meditação entra a figura
de Jesus, a sua referência às promessas messiânicas dos profetas do AT, a
elaboração do paradoxo da cruz, os mistérios salvíficos da morte, ressurreição
e ascensão. O conhecimento do mistério de Jesus Cristo nutre-se da luz interna do encontro com o
Ressuscitado, que patenteia aos discípulos o sentido da Sagrada Escritura (cf.
Lc 14,27), promete-lhes e envia-lhes o Espírito Santo, que os introduz em toda
verdade (cf. Jo 14,26).
Pela
meditação podemos contemplar a imagem de Deus nos poderes naturais da alma
(memória, intelecto e vontade). A meditação (meditatio) é o recolhimento da
alma em si mesma e que tem por objetivo a imagem de Deus.
Para Santa Teresa, a meditação discorre muito com
o intelecto, da seguinte maneira: começamos a pensar na graça que Deus nos
concedeu em nos dar o seu único Filho, e não paramos aí, avançando para os
mistérios de toda a Sua gloriosa vida.[3]
A meditação
mobiliza o pensamento, a imaginação, a emoção e o desejo. Esta dinamização é
necessária para aprofundar as convicções da fé, suscitar a conversão do coração
e fortalecer a vontade de seguir a Cristo.[4]
Esta é a
grande diferença entre meditação e o estudo, porque o fim do estudo é a
ciência, e o da meditação é o amor a Deus e a prática das virtudes.
A meditação
da paixão não pode limitar-se a uma reconstrução objetiva do fato, embora
interiorizada como procuramos fazer até aqui.
A leitura
busca a doçura inefável da vida bem aventurada, a meditação encontra-a, a
oração pede-a, a contemplação saboreia-a. Trata-se das palavras do próprio
Senhor: “Procurai e achareis, batei e se vos abrirá” (Mt 7, 7). Procurai e
buscai lendo, encontrareis meditando; batei orando, entrareis contemplando.
Na psicologia
de Jung[5],
a palavra “meditação” ou “meditatio” é usada quando ocorre um diálogo interior
com alguém invisível que tanto pode ser Deus, quando invocado, como a própria
pessoa. Não se refere a uma simples reflexão, mas a um diálogo interior e
portanto uma relação viva com a voz do “outro” que responde, isto é, com o inconsciente. Meditar significa, portanto, que através de um diálogo com Deus a
pessoa se espiritualiza, volatiliza e se sublima cada vez mais.
Contemplação
O caminho espiritual da contemplação e da união com Deus passa pelo ocupar-se com os pensamentos e as paixões. Pelo dom do Espírito Santo, o homem, sua fé, chega a contemplar e a saborear o mistério do plano divino.
A
contemplação é o olhar de fé, fixado em Jesus. “Eu olho para Ele e Ele olha
para mim”[6],
dizia, no tempo de seu santo pároco, o camponês de Ars em oração diante do
sacrário. Esta atenção a Ele é a renúncia ao eu. Seu olhar purifica o coração.
A luz do olhar de Jesus ilumina os olhos do nosso coração; ensina-nos a ver
tudo à luz da sua verdade e da sua compaixão para com todos os homens. A contemplação
põe também o seu olhar sobre os mistérios da vida de Cristo.[7]
Para Jung, a
contemplação cristã procura, por exemplo, nos Exercitia Spiritualia de Inácio de Loyola, captar com todos os
sentidos do corpo a forma sagrada, o olhar do contemplador pode penetrar as
profundezas do mistério da alma, onde enxerga o que antes não podia ser visto,
isto é, aquilo que se achava mergulhado num estado de inconsciência.
A
contemplação mística se baseia, de um lado, no fato de que Deus pode agir diretamente
na alma e, de outro, na possibilidade de que a alma realize operação simples de
tipo intuitivo-afetivo. Todos os autores místicos admitem dois níveis de
atividade da alma: um nível comum, onde se efetuam as operações do conhecimento racional e discursivo, e um nível superior, em que Deus se apresenta através de modo
simples de conhecimento e de adesão. O modo de conhecer estes dois níveis e os
nomes que lhes são dados difere muitíssimo; entretanto, esta diversidade não impede
acordo substancial.
A presença de
Deus na alma é presença viva e ativa. Deus infunde continuamente nela as
virtudes teologais da fé e da esperança e segundo as próprias palavras de
Escritura, “o amor de Deus foi difundido em nossos corações por meio do
Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). O dom da contemplação consiste, pois, essencialmente
no fato de que a alma toma consciência de que Deus está presente e age
sobrenaturalmente nela. Os modos e os graus desta tomada de consciência são múltiplos. Normalmente progride no sentido deinteriorização cada vez mais profunda. Empregando o símbolo
utilizado por Santa Teresa[8],
o castelo interior contém múltiplas estâncias; na estância central encontra-se
Deus.
São João da Cruz fala da
contemplação tenebrosa, fonte de purificação completa. O que vale para a
contemplação mística vale também – com menor intensidade – para a simples
oração contemplativa.
Toda atividade contemplativa nos coloca
na presença de Deus, que é Deus Santo. Como Pedro na presença de Jesus tomou
consciência de que era pecador (cf. Lc 5,8), assim quem contempla, colocado na
presença do Deus Santo, adquire consciência da distância infinita que o separa
de Deus. Desperta nele o desejo de se converter e de chegar à santidade. Então,
não se trata mais de exigência religiosa de imitar a santidade de Deus. [9]
O
conhecimento do mistério de Jesus Cristo nutre-se da luz interna do encontro
com o Ressuscitado, que patenteia aos discípulos o sentido da Sagrada Escritura
(cf. Lc 14,27), promete-lhes e envia-lhes o Espírito Santo, que os introduz
em toda verdade
(cf. Jo 14,16).
Portanto, a
meditação abre-se assim para a contemplação e nela se consuma. A visão tida na
contemplação é dom da graça do Espírito de Deus, que tudo sonda, também as
profundezas de Deus (cf. 1 Cor 2,10), ora em nossos corações (cf. Rm 8,26) e
capacita-nos para o amor. Do amor nasce àquela familiaridade e confiança de
coração, à qual o Senhor se revela (cf. Rm 14,21).
Em Paulo e
João, a comunidade cristã das origens encontra os seus mestres da contemplação
na escola única de um só Senhor, cuja vida, paixão e glorificação como tema
transcendente de meditação e contemplação cristã jamais se pode esgotar.
[1] Cf. EICHER, Peter. Meditação/Contemplação. In: Dicionário de
Conceitos Fundamentais de Teologia. São Paulo: Paulus, 1993, p.535.
[2] Cf. Ib.p.535.
[3] Cf. Revista
Innerlilk Leven. Edição do Centro de Estudos Carmelitanos, Bélgica, n.32-69, p.96, [nov/dez] 1978.
[4] Cf. TRESE, Leo J. A
fé explicada. São Paulo: Quadrante , 1999, p.452.
[5] Cf. JUNG, C. Gustav. Psicologia e Alquimia, v.XII, 4ª Edição. Petrópolis: Vozes, 1991, p.286.
[6] TRESE, Leo J. A
fé explicada. São Paulo: Quadrante , 1999, p.452.
[7] Cf. Catecismo
da Igreja Católica, n.2715, 9ª Edição. São Paulo, Loyola, 1999, p.696.
[8] Cf. FIORES, Stefano de e Goffi Tullo. Contemplação.
In: Dicionário de Espiritualidade. São Paulo: Paulus, 1993, p.187.
[9] Cf. Ib. p.191.
FONTE: Ilustração: https://www.google.com.br/search?tbm=isch&sa=1&ei=IE-UWsLsBsvI5gLKg7_gCA&q=Imagens+sobre+a+Medita%C3%A7%C3%A3o+&oq=Imagens+sobre+a+Medita%C3%A7%C3%A3o+&gs_l=psy-ab.12...84389.91713.0.93943.16.11.0.0.0.0.661.2582.2-1j3j0j2.6.0....0...1c.1.64.psy-ab..12.1.650...0i30k1.0.Hk-Xdti5ccA#imgrc=_KUJ9NvBjhahhM:
FONTE: Ilustração: https://www.google.com.br/search?q=Imagens+sobre+a+Contempla%C3%A7%C3%A3o&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=59QYzk6eWB7omM%253A%252CUdDIjjs3lrI12M%252C_&usg=__kvJkXp6ikTiHfKJKekC21WuuU8E%3D&sa=X&ved=0ahUKEwjhu-bUm8TZAhUnw1kKHaT_D2EQ9QEIPzAL#imgrc=D4ojzyGt4W7thM:
FONTE: Ilustração: https://www.google.com.br/search?tbm=isch&sa=1&ei=IE-UWsLsBsvI5gLKg7_gCA&q=Imagens+sobre+a+Medita%C3%A7%C3%A3o+&oq=Imagens+sobre+a+Medita%C3%A7%C3%A3o+&gs_l=psy-ab.12...84389.91713.0.93943.16.11.0.0.0.0.661.2582.2-1j3j0j2.6.0....0...1c.1.64.psy-ab..12.1.650...0i30k1.0.Hk-Xdti5ccA#imgrc=_KUJ9NvBjhahhM:
FONTE: Ilustração: https://www.google.com.br/search?q=Imagens+sobre+a+Contempla%C3%A7%C3%A3o&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=59QYzk6eWB7omM%253A%252CUdDIjjs3lrI12M%252C_&usg=__kvJkXp6ikTiHfKJKekC21WuuU8E%3D&sa=X&ved=0ahUKEwjhu-bUm8TZAhUnw1kKHaT_D2EQ9QEIPzAL#imgrc=D4ojzyGt4W7thM:


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