quinta-feira, 8 de março de 2018

Tempo da decisão política

Hoje quero leva-los a um mergulho nas águas da filosofia.
   
Assim disse Bertolt Brecht: Um homem que tenha algo a dizer e não encontre ouvintes está em má situação. Mas pior ainda estão os ouvintes que não encontram quem tenha algo a lhes dizer.









Tempo da decisão política

     O tempo que corresponde às decisões do poder público, capazes de produzir ordenamento jurídico para as questões de política científica, pode ser ainda mais angustiante. É nesse terreno que entram as polêmicas de cunho político, filosófico, ético, moral, religioso, jurídico e econômico. Consciente da capacidade terapêutica das pesquisas em biotecnologia, os poderes legislativo e judiciário não ignoram os limites das descobertas científicas, mas são constantemente assediados pelos interesses ora econômicos dessas pesquisas, ora morais e conservadores de determinados setores da sociedade, sem falar nos interesses da própria comunidade científica. Pode-se falar ainda da pressão do “quarto poder” (imprensa), que traz consigo o envolvimento da opinião pública ou a equação das forças políticas, etc.
      Some-se a isso a distância e ignorância do grande público frente às questões que demandam consenso para a elaboração de políticas de desenvolvimento científico, principalmente quando são excluídos deste debate ou transformados em cabos eleitorais e grupos conservadores ou lobistas de conglomerados bioindustriais.
      Segundo Shakespeare, há no Reino Unido um movimento recente de crítica à forma como a ciência tem se tornado distante da sociedade. A ciência e os cientistas estão longe do contato e das preocupações das pessoas. Critica-se, ainda, a distinção que se costuma fazer entre ciência e sociedade ou entre ciência e suas aplicações. A sociedade deve traçar os limites da aplicação científica e decidir como esta deve se tornar parte da vida cotidiana. A ciência em si, como uma busca e um processo, deve ser livre, mas suas aplicações afetam a todos.
    No caso das pesquisas que envolvem a clonagem terapêutica, a comunidade internacional (e científica) possui entendimentos distintos. Em alguns países são permitidas as pesquisas com células-tronco embrionárias retiradas de embriões excedentes, em outros não, até porque há enormes diferenças quando se trata de reunir valores éticos. Há países em que predomina uma cosmovisão cristã-ocidental, noutros existe a influência da religião islâmica ou mesmo judaica, para não falar das religiões de tradição da filosofia oriental. A necessidade de consenso em unir interesses divergentes e com demandas temporais diversas (determinados atores têm mais pressa que outros) faz com que uma intricada relação se estabeleça sobre os poderes legislativos desses países para o tempo de sua tomada de decisão.
      E essa equação tende a ficar mais crônica e difícil na medida em que os integrantes do poder público desconhecem ou ignoram o complexo quadro de fatores que permeiam as pesquisas científicas. Como o tempo da ciência é muito mais lento que o tempo do jornalismo científico, que o tempo da opinião pública e o próprio tempo do poder público, responsável pelo ordenamento jurídico ou por aquilo que recentemente chamam de “biodireito”, os legisladores encontram-se em um grande dilema: construir, de forma rápida, normas seguras para a sociedade e para a comunidade científica, sem ter para tanto, conhecimentos seguros sobre benefícios e riscos que envolvem a pesquisa científica em questão. Ou seja, os diferentes tempos envolvidos concorrem entre si para que haja, adequadamente, um consenso que permita ao legislador regular o direito em matéria de política científica.
     No Reino Unido há o entendimento de que os debates científicos precisam ser dominados por especialistas. As pessoas comuns temem não saber os debates técnicos sobre determinado assunto. Acontece que existem os especialistas técnicos, existem os especialistas éticos e os teólogos. E todos se acham no direito de dizer o que é certo e o que é errado. O problema é que os resultados da ciência são, frequentemente, contra-intuitivos ou desconhecidos e rejeitados pelos cidadãos comuns.
      A razão pela qual o diálogo sobre os avanços da ciência e da tecnologia deve ser mais amplo é que todos nós somos afetados pela ciência e pela medicina. Somos consumidores de alimentos, tomamos remédios, recebemos diagnósticos, passamos por tratamentos médicos e participamos de pesquisa médicas. Como cidadãos, votamos em questões relacionadas à economia a à defesa. Deveríamos também votar em questões relacionadas à pesquisa e aos cuidados com a saúde.




























FONTE: Ilustração: https://www.google.com.br/search?q=imagem+Bertolt+Brecht&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=ZysEexLI_9iPQM%253A%252CCjSTE3oUSGOqUM%252C_&usg=__AW673IgD5J3bcHh7C_ZbAmkUhn0%3D&sa=X&ved=0ahUKEwjEw46HnsLZAhUuhuAKHf5mCIgQ9QEIQTAM#imgrc=5RyY7VdLSWxi1M:

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