O Vácuo Ético da Crise
Hoje, há uma perda de referência de valores – e isso se deve, em grande
parte, à pluralidade contemporânea. Aliás, vivenciamos cada vez mais a
corrupção. Pois, digo: a crise atual não é “só” política, é ética.
A crise dos valores éticos não é algo recente. Mas é sentida
principalmente quando estamos em meio aos efeitos de colapsos econômicos e políticos
que, por sua vez, influenciam nas relações humanas. No livro O Princípio da
Responsabilidade, o filósofo alemão Hans Jonas (1903-1993) fala que
experimentamos um “vácuo ético”. Apesar do nome soturno, há um lado positivo:
somos forçados a revisar valores e clamar por transparência.
O termo Ética vem do
grego ethos, que significa “a morada do homem” – local onde o indivíduo habita
e desenvolve um estilo de vida. Assim, remete ao conjunto de conhecimentos que
o ser humano tem de si próprio e da natureza; isso gera também um código de
conduta.
E, se os dias de hoje são marcados pelo
processo de globalização, “a morada do homem” deve ser mais de uma, ao mesmo
tempo. Agora, os princípios éticos encontram a diversidade de crenças e
ideologias. O fenômeno da pluralidade concedeu, ao ser humano, maior liberdade
para expressar sua maneira de interpretar a vida. No âmbito religioso, por
exemplo, o diálogo serve como uma ferramenta de aproximação entre diferentes
crenças, reforçando a tolerância.
O totalitarismo, então, torna-se ainda
mais danoso. A filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) diz, em seu livro
Condição Humana, que uma política totalitária “abre espaço para a violência e
eventual destruição da esfera pública”. E que, ainda, práticas desse
tipo se fazem presentes inclusive em democracias liberais.
O pensamento atual rejeita o
conceito de que existem verdades absolutas. Todo discurso é relativo e depende
do contexto sociocultural em que as pessoas se inserem. Antes, um código de
conduta regia os princípios de toda uma sociedade; hoje, um conjunto de normas
não consegue alcançar a universalidade de um mundo cada vez mais plural.
Os moldes, que lapidavam as
maneiras de agir de cada um, se dissiparam assim que confrontados com o
processo de globalização. Aquele mundo hegemônico aspirado pelas instituições
(como família, escola, igreja, estado, justiça, política) acabou por se tornar
uma distopia. Dessa maneira, a crise atual também carrega uma crise de
autoridade.
A incapacidade de fixar
valores coletivos trouxe consigo um buraco para controlar o funcionamento da
máquina pública. Com isso, houve a abertura para um tipo de egoísmo –
refletido, por exemplo, no crescimento da corrupção. Na era do vazio, a
confiança e a fé se dissolveram. Por isso, o mundo se anestesiou.
Esse abalo gera complicações
agravantes, tais como uma cultura na qual “riqueza” de bens é sinônimo de
“êxito” e “felicidade”; uma economia consumista em que “ser” consiste em
comprar, consumir, usar e desperdiçar; uma identidade social marcada por
aquisições de mercado e não por ideologias.
Se os problemas individuais
são partes destoantes de um mesmo cenário global, o que precisamos é reconhecer
a dimensão de nossos atos e estabelecer uma conexão enquanto sociedade. Dessa
forma, a saída mais coerente é promover o encontro entre indivíduos – o
reconhecimento de diferentes realidades.
Claro, a exposição da crise
ética tem causado pequenas mudanças com impacto positivo. Há, em resposta, um
movimento crescente de pessoas que buscam um estilo de vida saudável, bem como
a valorização da mão-de-obra local e uma luta por “empoderamento” de minorias.
Aliás, quem sabe a resposta para o vácuo ético está embutida na pluralidade
contemporânea?
A meu ver, a crise anuncia a
falta de dispositivos essenciais para que a sociedade funcione. O vazio de
projetos coletivos precisa ser preenchido com o resgate de valores morais, como
a honestidade. E os valores, por sua vez, precisam acompanhar a evolução
humana, reinventando-se numa mesma frequência.
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