sexta-feira, 3 de novembro de 2017

A EXPERIÊNCIA MÍSTICA

O Poder da Oração


         Sobre a oração de união (um grau além da “oração de quietude”), Teresa escreve:    “...Apodera-se Deus da vontade e também do entendimento” (LV, XVII, 5) Teresa conscientiza-se claramente do fato de que Deus toma a iniciativa. Ele mesmo a atrai para dentro. Ele mostra o caminho.
       Trata-se, sem a menor dúvida, de uma experiência mística que se distingue de outras similares pelo fato de sua preparação consistir em um deixar correr, em um esvaziar-se de imagens, e coisas semelhantes.
      Haverá necessidade de que o místico cristão seja cristão e que sua experiência mística seja estreitamente ligada com os valores cristãos, para que também nela – onde quer que se determine – possa ser reconhecida como cristã.
     Existe uma infraestrutura antropológica da experiência mística cristã “sobrenatural”. É possível assinalar no dinamismo da vida do espírito, enquanto aberto ao bem e a verdade absolutos, a possibilidade (natural) positiva da experiência mística. Autores como Blondel, Marechal, Picard inclinaram-se claramente para a resposta afirmativa e sua pesquisa foi recentemente assumida por Rahner.
      A experiência mística é uma experiência da paixão. Ainda que se trata de uma paixão da alma, ela se expressa pelos tormentos das paixões humanas. O indizível aspira desesperadamente pelo dizer. Não há experiência mística que não rebate o desconforto da escassez que, de repente, assola o mundo; a impossibilidade da palavra (seriam   preciosos, tal experiência pode se dar somente nos casos muitos raros de uma conversão milagrosa que tem por modelo básico a vivência de Paulo em Damasco); a incerteza abrasiva das imagens. É que o processo da vida espiritual só vem resgatado pela união transformante, mas é necessário primeiro provar este caminho purgatório que a teologia negativa designa pelas metáforas da noite, da nuvem, da nuvem do não-saber, da ausência, do silêncio.
    Para Santa Teresa é um caso típico dessa crise de passagem do “sentir-compreender” ao “comunicar”. A redação do livro da Vida foi a prova de fogo da sua experiência mística. E na hora de comunicar a sua experiência, nem os livros e nem os letrados lhe ajudam nessa obra.
   Os letrados, não a ajudam, porque privados de experiência não entendem a sua experiência; os livros por sua vez também não a ajudaram a compreender aquilo que para Teresa era inefável. Em resumo, nem os livros conseguiam responder o que Teresa precisava, nem os teólogos conseguiam compreender a sua experiência mística, e esses julgam, dizendo que tudo é diabólico e a condenam a elaborar ulteriores relações escritas sobre a sua oração, e a remeteram para novos especialistas; os jesuítas, isto é, passaram dos teólogos para os espirituais.
   Portanto, para o místico, é comunicar uma realidade mística. Provém do ter recebido uma graça no nível místico. Ela descobre que a graça que ela recebeu, é destinada aos outros, é que nos diz no livro da Vida:
 ...Não costumais, Senhor, conceder semelhantes riquezas e benefícios a uma alma a não ser para que muitos aproveitem. Já sabeis, Deus meu, que com toda a vontade e de todo coração eu Vos suplico, e tenho suplicado algumas vezes: não me importo de perder o maior bem da terra desde que concedeis essas graças a quem delas tire maior benefício para que cresça Vossa glória.
    Ela chega à conclusão que as inúmeras graças que recebeu, não eram para ficarem restritas a ela, mas para que atingissem a todos que a rodeiam.

O êxtase de Santa Teresa, em mármore.


























FONTE:Ilustração:https://pt.wikipedia.org/wiki/O_%C3%8Axtase_de_Santa_Teresa#/media/
File:Teresabernini.JPG


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