O Poder da Oração
Sobre a oração de união (um grau além da
“oração de quietude”), Teresa escreve: “...Apodera-se Deus da vontade e também
do entendimento” (LV, XVII, 5) Teresa conscientiza-se claramente do fato de que
Deus toma a iniciativa. Ele mesmo a atrai para dentro. Ele mostra o caminho.
Trata-se, sem a menor dúvida, de uma
experiência mística que se distingue de outras similares pelo fato de sua
preparação consistir em um deixar correr, em um esvaziar-se de imagens, e
coisas semelhantes.
Haverá necessidade de que o místico
cristão seja cristão e que sua experiência mística seja estreitamente ligada
com os valores cristãos, para que também nela – onde quer que se determine –
possa ser reconhecida como cristã.
Existe uma infraestrutura antropológica
da experiência mística cristã “sobrenatural”. É possível assinalar no dinamismo
da vida do espírito, enquanto aberto ao bem e a verdade absolutos, a
possibilidade (natural) positiva da experiência mística. Autores como Blondel,
Marechal, Picard inclinaram-se claramente para a resposta afirmativa e sua
pesquisa foi recentemente assumida por Rahner.
A experiência mística é uma experiência
da paixão. Ainda que se trata de uma paixão da alma, ela se expressa pelos tormentos
das paixões humanas. O indizível aspira desesperadamente pelo dizer. Não há
experiência mística que não rebate o desconforto da escassez que, de repente,
assola o mundo; a impossibilidade da palavra (seriam preciosos, tal experiência pode se dar somente
nos casos muitos raros de uma conversão milagrosa que tem por modelo básico a
vivência de Paulo em Damasco); a incerteza abrasiva das imagens. É que o
processo da vida espiritual só vem resgatado pela união transformante, mas é
necessário primeiro provar este caminho purgatório que a teologia negativa
designa pelas metáforas da noite, da nuvem, da nuvem do não-saber, da ausência,
do silêncio.
Para Santa Teresa é um caso típico
dessa crise de passagem do “sentir-compreender” ao “comunicar”. A redação do
livro da Vida foi a prova de fogo da sua experiência mística. E na hora de
comunicar a sua experiência, nem os livros e nem os letrados lhe ajudam nessa
obra.
Os letrados, não a ajudam, porque
privados de experiência não entendem a sua experiência; os livros por sua vez
também não a ajudaram a compreender aquilo que para Teresa era inefável. Em
resumo, nem os livros conseguiam responder o que Teresa precisava, nem os
teólogos conseguiam compreender a sua experiência mística, e esses julgam,
dizendo que tudo é diabólico e a condenam a elaborar ulteriores relações
escritas sobre a sua oração, e a remeteram para novos especialistas; os
jesuítas, isto é, passaram dos teólogos para os espirituais.
Portanto, para o místico, é comunicar
uma realidade mística. Provém do ter recebido uma graça no nível místico. Ela
descobre que a graça que ela recebeu, é destinada aos outros, é que nos diz no
livro da Vida:
...Não costumais, Senhor,
conceder semelhantes riquezas e benefícios a uma alma a não ser para que muitos
aproveitem. Já sabeis, Deus meu, que com toda a vontade e de todo coração eu
Vos suplico, e tenho suplicado algumas vezes: não me importo de perder o maior
bem da terra desde que concedeis essas graças a quem delas tire maior benefício
para que cresça Vossa glória.
Ela chega à
conclusão que as inúmeras graças que recebeu, não eram para ficarem restritas a
ela, mas para que atingissem a todos que a rodeiam.
O êxtase de Santa Teresa, em mármore.
FONTE:Ilustração:https://pt.wikipedia.org/wiki/O_%C3%8Axtase_de_Santa_Teresa#/media/
File:Teresabernini.JPG
O êxtase de Santa Teresa, em mármore.
FONTE:Ilustração:https://pt.wikipedia.org/wiki/O_%C3%8Axtase_de_Santa_Teresa#/media/
File:Teresabernini.JPG
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