Aos que tentam relativizar declarações preconceituosas e ofensivas do candidato Jair Bolsonaro comparando-as com falas que alegam "similares" às de políticos do campo oposto, ou que ainda tentam classificar suas manifestações de ódio e ignorância como meras piadas, fica aqui o pedido de que parem com a hipocrisia ou abandonem o autoengano.
Suas declarações não são meras piadas ou simples vulgaridade, elas são compatíveis com sua plataforma política, como ele já deixou bem claro em suas propostas de governo. Aqueles que votarem no candidato estarão endossando esta plataforma política e suas propostas de governo, mesmo que digam que estão votando contra "tudo que está aí", ou mais especificamente, que estão votando para evitar que o PT volte ao poder.
Se Bolsonaro vencer e começar a cumprir suas promessas de campanha, ou seja, se ele não cometer estelionato eleitoral e resolver entregar aos seus eleitores mais fiéis o que lhes prometeu, por favor, peço que assumam a responsabilidade por seus votos. Bem, nem vou falar aqui de consequências para o país ou para o povo, entidades demasiado abstratas para causar verdadeira empatia e solidariedade. Falarei dos mais próximos, que são aqueles por quem realmente a maioria das pessoas se sensibiliza.
Se algum amigo ou parente acabar prejudicado ou injustiçado por consequências de atos de governo de Bolsonaro ou de atos legislativos que contem com seu apoio como Presidente, antecipo que não vai adiantar pedir desculpas depois e dizer que "não sabia que ele iria fazer isso ou aquilo contra tais pessoas".
Podemos dizer, sem risco de desonestidade, que aqueles que vierem a votar em Bolsonaro foram suficientemente alertados sobre os riscos de se eleger um candidato que exalta um tipo como o Coronel Brilhante Ustra, primeiro militar brasileiro condenado pela justiça pela prática de tortura (envolvendo crianças e requintes de crueldade; não é Fake News, é verdade; pesquisem).
E não venham argumentar que o PT é a ditadura pior a ser evitada. Podem acusar o PT das práticas mais torpes, eu mesmo acuso o partido por muitas ações nefastas com resultados catastróficos que perduram até hoje, incluida aí, sua evidente parte na responsabilidade pela crise em que estamos nos afogando. Podem até mesmo acusar o PT pelas muitas coisas boas que certamente fez pelo país, a depender do viés ideológico. Mas seria faltar absolutamente com a verdade acusar o PT de ter instaurado uma ditadura no pais (ou de prentender instaurar uma). Não há nada que corrobore esta visão.
Se a tese da ditadura petista estivesse correta, Bolsonaro não seria candidato, estaria preso como os opositores venezuelanos e seus seguidores teriam sido massacrados como na Nicarágua, só para ficar no espectro do autoritarismo da esquerda latino-americana.
Então, que justifiquem seu voto atacando vigorosamente o PT, mas por razões plausíveis, como esquemas de corrupção já reconhecidos por quadros valorosos do próprio partido, ou por manter apoio a caudilhos violentos como Maduro e Ortega e silenciar sobre suas violações aos direitos humanos.
E, mesmo estas justificativas soam bastante frágeis, ou paradoxalmente, injustificáveis, diante da possibilidade de ver subir a rampa do Planalto um sujeito que relativiza a tortura e tem como uma de suas principais bandeiras liberar o porte de armas em um país como o Brasil (em breve, qualquer briga de trânsito ou entre adolescentes na escola vai terminar em tiroteio; quem ganha com isto? A indústria de armas, certamente).
Mas, voltando à questão da defesa nacional contra o totalitarismo comunista, definitivamente, não houve ditadura petista no Brasil, porque se tivesse havido, como explicar a Lava Jato, o impeachment e as próprias eleições deste ano? Este argumento para votar em Bolsonaro é uma falácia.
Então, só resta àqueles que votarão em Bolsonaro sem muita convicção rezar para que ele seja, ironicamente, o oposto de seus anseios por "renovação" na política, ou seja: mais um deputado oportunista que ficou instalado por quase três décadas no Congresso, sem apresentar qualquer projeto relevante, recebendo auxílio moradia mesmo tendo imóvel em Brasília, contratando funcionária fantasma e colocando os filhos na política para herdar sua capitania.
Sempre lembrando que ele tem um vice do Exército ainda mais truculento que ele. Em um país com tradição de colocar vices no poder, esta não é uma notícia muito animadora. Ainda mais se levarmos em consideração que o candidato Bolsonaro está com a saúde debilitada e que o Brasil tem uma queda por ditaduras duradouras. Sem contar as inúmeras faixas espalhadas por bairros de classe média do país pedindo intervenção militar.
Então, se Bolsonaro vencer e coisas ruins acontecerem a pessoas próximas ou queridas de seus eleitores (sobre o país e o povo, achei melhor não invoca-los, por razões que já explanei anteriormente), enfim, se algo triste ou injusto vier a ocorrer com algum familiar ou amigo de seus eleitores, como consequência da eleição deste fascista vulgar, não venham dizer que "não sabiam de nada", mesmo porque este argumento é geralmente atribuído ao seu arquiinimigo petista. Além de não colar, não ficaria bem. Lembrando que, no final da Segunda Guerra, os mesmos alemães que colocaram Hitler no poder pelo voto e o mantiveram lá pela fé também não "souberam de nada", até que foram obrigados a visitar as instalações dos campos de concentração e as covas coletivas.
Então, assumamos todos integralmente as consequências de nossos votos. Sobre aquilo que já sabido, se tornado realidade, será covarde e desonesto alegar ignorância e chamar futuros gritos dos oponentes de intolerância "invertida". E aqui, já apelo à consciência de todos nós, pois o clima de ódio e vingança que tomou conta do país já está tão tóxico que pode nos levar a desdobramentos terríveis.
Se retaliações violentas e a ideia de aniquilação do inimigo tornarem-se banais, estaremos a um passo de uma sangrenta guerra civil. Não temos, como nos EUA, uma sólida democracia com mais de 200 anos, e que já teve sua própria guerra civil sangrenta, para suportar um Trump. Aqui, as instituições vão se esfarelar ao primeiro tiro de canhão, se o extremismo imperar.
Meu post não é uma ameaça aos eleitores de Bolsonaro, nem um mau agouro. Ao contrário do Mito, meu verbo não é de ódio. É um apelo à reflexão sobre as consequências do voto em um candidato com ideias tão perigosas num horizonte um pouco mais distante que a eleição seguinte. O resultado desta eleição poderá reverberar na vida de todos os brasileiros por muitos anos. Então, trata-se apenas de um alerta baseado em minhas observações de vida e o que aprendi sobre a história e o ser humano.
Esta eleição pode custar muito caro. O preço pode ser a nossa incipiente democracia e vidas humanas. É de boa vontade que escrevo. Desejo o melhor, apesar de pressentir o pior. Mas o jogo ainda está para ser jogado. Podemos pensar um pouco mais. Ou melhor, podemos simplesmente pensar.