O ponto central da alma do ser humano
Jung deu a este ponto central o nome de si-mesmo (Selfbest). Intelectualmente, ele não passa de um conceito psicológico, de uma construção que serve para exprimir o incognoscível que, evidentemente, ultrapassa os limites da nossa capacidade de compreender. O si-mesmo também pode ser chamado “o Deus em nós”.[1] Os primórdios de toda nossa vida psíquica parecem surgir inextricavelmente deste ponto e as metas mais altas e derradeiras parecem dirigir-se para ele. Tal contradição é inevitável como sempre que tentamos definir o que ultrapassa os limites de nossa compreensão.
Em Mysterium
Coniunctionis, Jung observa que a relação dialética entre consciente e
inconsciente conduz logicamente ao confronto do paciente com sua sombra, que é
metade obscura da alma: “O confronto com
a sombra causa primeiro um equilíbrio
morto ou uma parada que impede decisões
morais, e torna ineficazes as convicções, e mesmo as impossibilita.Tudo se torna duvidoso, e por isso os alquimistas denominam adequadamente esse estado inicial como
negrura, escuridão, caos e melancolia.
É com razão
que o magnum opus (grande obra) principia aqui”. [2]
Tomar consciência da sombra abre no
indivíduo conflitos, que o colocam em um estado de completa crise dos hábitos,
das crenças, dos laços e mais radicalmente dos diversos espelhos da consciência
de si. Como vimos, na citação acima, podemos dizer que a experiência daquilo
que foi reprimido ou que ainda nunca chegou ao consciente, faz com que o eu
perca seus pontos de apoio, mergulhando numa completa obscuridade.
A definição de sombra para Jung,
estabelece e possibilita um paralelo com a percepção de São João da Cruz
(1542-1591) acerca do que fosse fé. Segundo o carmelita “a fé é uma noite
escura para a alma, e quanto mais obscura mais luz dá a si”[3].
No paralelismo entre Jung e o carmelita podemos dizer que assim como a “noite
escura” obscurece a alma, a sombra obscurece a consciência. No entanto, quanto mais o indivíduo se torna
consciente de sua “noite escura” e de
“sua sombra” mais luz ele tem para si, visto que se torna consciente de coisas
que estavam inconscientes.
Podemos delinear outro importante paralelo a partir do evangelho de São João. Para o evangelista, Jesus Cristo é a luz que brilha em meio às trevas, que acolhe os pecadores e não os condena. Relacionando Cristo-Centro-Selfbest e indivíduo pode-se entender que, Cristo é a luz que brilha no eu e que o acolhe. Pois, para a harmonia e integração do eu sujeito, se faz necessário que esse eu, o pecador que somos nós mesmos, acolha a Luz que o habita. Só incluindo esse lado sombrio da alma à Luz, é que a pessoa atinge sua plenificação e totalidade.
Portanto, este processo de percepção e
integração da sombra é realizado de maneira consciente. Jung conhece que “as obscuridades são
iluminadas, e que de um lado, toda a personalidade fica iluminada e que de
outro, a consciência, ganha infabilidade, em amplidão e profundidade”.[4]
É na integração dos opostos, ou seja, desse impacto e confronto da
consciência/sombras que resultam os símbolos unitivos, ou seja, o Selfbest.
“Deus é o meu centro, se o envolvo em
mim: É então minha circunferência, quando nele me diluo por amor”.[5]
[3]
Cf..Mosteiro
das Carmelitas Descalças do Jabaquara. Curso
Noções de Vida Espiritual. São Paulo, p.20.
[5] Ib. p.207.
FONTE: Ilustração: https://www.google.com.br/search?biw=1366&bih=651&tbm=isch&sa=1&ei=VKWUWvq8IpG6gge70ZiQAw&q=Imagem+Cristo+%C3%A9+a+luz+que+brilha&oq=Imagem+Cristo+%C3%A9+a+luz+que+brilha&gs_l=psy-ab.12...1643276.1654757.0.1656143.28.16.0.0.0.0.956.3407.3-3j0j1j2.6.0....0...1c.1.64.psy-ab..26.2.1880...0.0.Y4YPTNsACrs#imgrc=uhArzt-X62qkIM:
FONTE: Ilustração: https://www.google.com.br/search?biw=1366&bih=651&tbm=isch&sa=1&ei=VKWUWvq8IpG6gge70ZiQAw&q=Imagem+Cristo+%C3%A9+a+luz+que+brilha&oq=Imagem+Cristo+%C3%A9+a+luz+que+brilha&gs_l=psy-ab.12...1643276.1654757.0.1656143.28.16.0.0.0.0.956.3407.3-3j0j1j2.6.0....0...1c.1.64.psy-ab..26.2.1880...0.0.Y4YPTNsACrs#imgrc=uhArzt-X62qkIM:


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